Novo plano de carreira: dez anos de retrocesso
Fábio Zanutto | 15/12/2022
Em 2021 as
leis 453 (geral) e 454 (magistério), conhecidas como os Novos Planos de
Carreira de São José dos campos fizeram 10 anos de aprovação e em 2022, 10 anos
de efetivo exercício. Nesse período muita coisa aconteceu no país, os
servidores públicos de todo o Brasil estão faz anos sob ataque, com constantes
ameaças de retirada de direitos, mas neste aspecto, o servidor público
municipal de SJC pode se considerar infelizmente um pioneiro, pois essas leis
aprovadas em 2011 já implementaram um sistema de regras que só agora vem sido
debatido em nível federal.
Sob a
justificativa de “modernizar” o serviço público e seus cargos, o prefeito
Eduardo Cury (PSDB) usou todo o poder que os prefeitos deste partido costumam
ter na cidade para atropelar qualquer discussão com a categoria e o projeto foi
aprovado quase que da mesma forma que foi concebido, ignorando todas as emendas
propostas pela oposição na época.
Nestes 10
anos, o que de fato acumulamos enquanto servidores regidos por essa lei são
mais denúncias de assédio moral e perseguição, utilizando as avaliações de
desempenho como mecanismo de controle. Em tempos onde os preços dos itens
básicos como alimentação, moradia e combustível disparam, o servidor sente no
bolso os efeitos perversos de uma política deliberada de enfraquecimento do
serviço público.
Também pudemos
notar nestes 10 anos um grande aumento no número de afastamentos causados por
transtornos psiquiátricos dentre os servidores da educação (30% dos casos só em
2019, segundo dados do próprio IPSM). Esses dados refletem justamente a
precariedade da categoria, a falta de apoio no ambiente de trabalho, intensa
pressão e cobrança e falta de perspectivas profissionais. E tudo isso antes da
pandemia!
Tudo isso
resultou também em um elevado número de exonerações de servidores da rede, que
cada vez mais migram para outras redes, estadual e particular no caso dos
professores, ou até mesmo mudam de profissão. A rede municipal de ensino de São
José dos Campos, antes conhecida por ser atrativa para pessoas de até mesmo
outros estados, agora expulsa profissionais da rede. Em 10 anos esse efeito
ainda não é desastroso, mas mantendo esse ritmo, o serviço público da cidade
irá sofrer cada vez mais com uma alta rotatividade e com cada vez mais
servidores olhando o serviço público como “bico”, ficando nele até conseguirem
algo melhor, sem a disposição e o empenho necessários que o serviço requer. Não
existe quem trabalhe por heroísmo. O bom trabalho precisa ser recompensado
financeiramente.
Com um
mecanismo de avaliação injusto, unilateral e que depende apenas da palavra do
chefe imediato, o servidor ganha uma nota muitas vezes injusta, sem ter para
onde recorrer para se defender. Essa nota é a responsável por fazer ele se
qualificar ou não para os processos de promoção (a cada 5 anos) e progressão (a
cada 3 anos). Porém, para concorrer o servidor precisa estar acima da média da
categoria. No caso dos professores, nos últimos anos a média tem se mantido
constantemente acima de 9, inviabilizando muitos servidores com notas boas a
sequer ter a chance de concorrer.
Na
administração Felício Ramuth/Anderson Farias (ex-PSDB, atual PSD) houve a implementação
da avaliação institucional, que piorou ainda mais a situação do servidor ao
vincular a nota final da avaliação de desempenho com a meta do seu local de
trabalho, criando uma tendência de diminuição das notas, tornando praticamente
impossível que a maioria dos servidores consiga avançar na carreira, mesmo que
estude e obtenha títulos acadêmicos. No caso dos professores por exemplo, a
nota é calculada de acordo com as metas do IDEB. Porém, essas notas não
dependem exclusivamente do comportamento do servidor. Elas também dependem da
situação social do bairro, da organização da escola, e a tendência é que ela
varie com o tempo. É desumano e irreal exigir que essas notas apenas aumentem,
ainda mais com os critérios que a Secretaria de Educação criou, totalmente
desconectados da realidade.
O que a
administração municipal parece querer é fragilizar cada vez mais o servidor
para aumentar o controle sobre ele e assim exercer controle total sobre todos
os escalões do serviço público. Um servidor independente trabalha melhor, de
maneira mais autônoma e sem rabo preso com políticos e partidos. Por isso
sofremos tantos ataques.
Os tempos são
difíceis, mas devemos ter em mente que os prefeitos e vereadores se vão, e o
servidor fica. Nós que estamos nessa posição devemos adotar uma postura mais
combativa e parar apenas de reclamar aos ventos e nas salinhas, com medo da
própria sombra.
É preciso
reverter essas mudanças garantindo um plano de carreira de acordo tanto com as
metas 17 e 18 estabelecidas pelo MEC no Plano Nacional de Educação quanto
cumprir a meta 18.2 do Plano Municipal de Educação, que prevê a revisão e
reestruturação dos planos de carreira em São José dos Campos e que isso seja
realizado com a efetiva participação dos servidores municipais.
Os chefes e
patrões do mundo só conseguem fazer com os trabalhadores o que o trabalhador
deixa. Se todos nós nos unirmos, ficará difícil para eles adotarem essas
práticas que cada vez mais nos adoece e nos empobrece, em todos os sentidos.
Nossa única arma é a união e o apoio. Somos maioria. Unidos, venceremos.