JOGANDO COM A EDUCAÇÃO: Desafios e Controvérsias na Rede Municipal de São José dos Campos

Imprensa | 08/11/2023

A pandemia da COVID-19 exacerbou os persistentes problemas educacionais no Brasil. Vale ressaltar que o isolamento social impactou negativamente a educação no mundo todo, como aponta os relatórios da ONU, UNICEF e Banco Mundial, comprometendo as futuras gerações.


Nesse sentido, a busca por soluções objetivando a recuperação da aprendizagem deve envolver toda a sociedade. No âmbito educacional, destacam-se a formação dos profissionais envolvidos, a parceria com as famílias e a adaptação dos espaços de aprendizagem como elementos essenciais. Diante desse fato, essa deveria ser a prioridade de todo gestor público.


No entanto, ao observar a realidade do município de São José dos Campos, identificamos diversas lacunas nas ações de recuperação da aprendizagem, no contexto da pandemia. O projeto "Educação 5.0" da Secretaria de Educação e Cultura (SEC) deveria estar voltada para a criação de políticas pedagógicas sustentáveis e inclusivas, mas, na verdade, parece mais um artifício de propaganda política partidária.


Neste cenário, inúmeras escolas municipais estão passando por reformas e adaptações arquitetônicas. No entanto, essas mudanças estão ocorrendo sem considerar a participação da comunidade na tomada de decisões. A Prefeitura Municipal está aplicando um modelo de padronização das estruturas físicas que, implicitamente, define um modelo pedagógico de pensamento único. A arquitetura, afinal, é um elemento pedagógico por excelência.


Essa abordagem contribui para tornar as escolas ambientes estéreis para a criatividade e mina os processos de participação e identificação entre os indivíduos que compõem uma dada realidade social. Cada comunidade possui demandas específicas, mas a concepção autocrática e verticalizada, desconsidera o princípio fundamental da gestão democrática.


Além disso, o projeto educacional em vigor despeja sistematicamente jogos pedagógicos nas escolas, sem levar em conta a relevância desses recursos. Isso significa que os docentes não têm voz ativa na escolha de materiais que auxiliariam na aprendizagem dos alunos. Há  uma obrigação de uso, as estratégias lúdicas podem ser valiosas para o desenvolvimento da aprendizagem, mas o que faz a diferença é a intencionalidade e a mediação do professor. A prioridade deveria ser o aumento da oferta de escolas em período integral e a garantia de mais tempo de estudo.


Os desafios para a recuperação da aprendizagem são inúmeros. A falta de professores na Rede Municipal de São José dos Campos é um deles. No entanto, a falta de uma política concreta de valorização profissional e o investimento em recursos ineficazes para o processo de aprendizagem só agravam os problemas da educação no município. Se os índices educacionais da cidade são considerados bons isso se deve muito mais ao empenho dos profissionais da educação do que das políticas educacionais adotadas.

Autores:

VALDEMIR PEREIRA
Prof. de Geografia na Rede Municipal de SJC e diretor do SindServ-SJC

DANIEL FERNANDES
Prof. aposentado na Rede Municipal de SJC e diretor do SindServ-SJC

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