A (falta de) correção da tabela do Imposto de Renda e o empobrecimento de quem vive de salários

Renata Belzunces - Economista do DIEESE | 18/08/2022

A correção da tabela de imposto de renda para pessoas físicas foi uma das promessas de campanha não cumprida do atual presidente Jair Bolsonaro. Sem a correção da tabela, por exemplo,  quaisquer valores que venham a ser acrescidos aos salários (reajustes, reenquadramentos funcionais, progressões de plano de carreira) são parcialmente “comidos” pelo leão.

Os reajustes da tabela não são regrados por mecanismos mais perenes, dessa forma dependem de políticas estabelecidas a cada troca de governo. Assim, vale até a opção por reajuste zero, independente do patamar inflacionário. Desde a estabilização da moeda em meados dos anos 1990, a política mais duradoura de correção da tabela aconteceu entre 2005 e 2015, desde então mais nenhum reajuste foi praticado.

Em toda campanha presidencial esse tema volta à tona, pois a maioria da população que vive de salário sente-se, com razão, penalizada pela combinação quase permanente entre aumento do custo de vida, arrocho salarial e nenhum alívio na mordida do imposto. Se a tabela fosse corrigida de acordo com a inflação (IPCA-IBGE), teríamos os seguintes valores:

Tabela de Imposto de Renda com faixas corrigidas pelo

IPCA-IBGE entre 1996 e 2021

Faixas

Alíquota (%)

Isento até

 

 

     4.467,02

0,0

De

    4.467,03

 a

     6.631,74

7,5

De

    6.631,75

 a

     8.800,52

15,0

De

    8.800,53

 a

   10.944,03

22,5

Acima de

  10.944,06

 

 

27,5

 

Atualmente, sobre um salário de R$ 5 mil incide Imposto de Renda de R$ 505,64, com a tabela integralmente corrigida pela inflação teríamos um IR de R$ 39,97! Em uma comparação com o salário mínimo, com a tabela atual quem ganha 1,6 salários mínimo já é tributado, ao passo que com a tabela corrigida apenas rendimentos mensais acima de 3,7 salários mínimo passariam a ser tributados.

No Congresso Nacional está estacionado um debate muito importante acerca de justiça tributária, trata-se da tributação de rendimentos provenientes de dividendos.  Quem trabalha para gerar renda paga impostos de acordo com uma tabela cada vez mais injusta, por outro lado, quem tem renda proveniente de ações está livre de prestar contas ao fisco.  É um escândalo em favor do rentismo, esse sim verdadeiro parasita segundo a melhor definição científica do termo.   A Petrobrás, por exemplo, pagou R$ 101,4 bilhões de dividendos em 2021, com uma tributação de apenas 10% sobre esse montante poderiam ser pagos auxílios de R$ 600 para 1,4 milhões de família por um ano ou ainda poderiam contribuir para a construção de   202.800 moradias populares com R$ 50 mil reais cada.

A correção da tabela do Imposto de Renda para pessoa física é um dos temas urgentes a serem tratados com vistas a redução das injustiças tributárias e o empobrecimento de quem vive de salários no país.  Funciona melhor pensar o assunto em um contexto em que prevaleça a simplicidade da regra geral de quem tem quem paga e quem não tem recebe. Simples de entender, mas difícil de efetivar já que depende de muita força e vontade política em prol do lado mais injustiçado e empobrecido. 

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