Luto na educação, diariamente.
Prof. Luis Alberto de Souza | 28/03/2023
A violência contra nós, professores, assume os mais
diversos níveis. Desde a precarização das condições de trabalho às exigências e
intransigências dos sistemas educacionais ávidos por índices, para que possam
ser apresentados à voracidade dos mercados financeiros, esmagando professores e
alunos diariamente.
Ou então, na miseribilizacão da profissão docente,
quer seja na recusa em pagar o piso salarial, que é o mínimo, ou na não
correção dos salários de quem já está há anos da sua vida dedicando-se a esse
ofício de ensino/aprendizagem.
Infelizmente, a professora Elisabeth Tenreiro é mais
uma vítima dessa violência que surdamente invade as escolas e a educação, dessa
vez atingindo o corpo, em seu grau máximo de expressão, ceifando-lhe a vida e
as esperanças e cá estamos nos, de luto mais uma vez.
Quem não se lembra? No auge da pandemia, quantos
colegas professores pereceram por falta de cuidado mínimo do poder público com
suas vidas? Quem não se lembra? Fomos, juntamente com outras categorias de
servidores públicos, os mais prejudicados, por termos todos os nossos direitos
extorquidos por uma política genocida e cruel, quando foi um dos períodos que
mais se exigiu dos professores.
Todos os dias, meticulosamente, somos violentados
nas salas de aulas Brasil afora e ao menor sinal de não cumprimento de índices
absurdos, quem são os acusados? Sim, nós professores.
Ao longo do tempo, paulatinamente, fomos perdendo
qualquer respeito ou prestígio social (se é que algum dia tivemos) somos
achincalhados em stand-ups (inclusive muitos professores vão lá para rirem da
própria desgraça, enquanto o outro ganha dinheiro com isso) ou por influencers
famintos por likes e holofotes, os quais hoje, já se somam quatro vezes mais o
número de professores, no Brasil.
Diante de toda essa violência e barbárie, que
encontra o corpo de uma colega que se dedicou a vida toda, a violência contra o
corpo de um professor ou professora não é algo isolado. Nós somos o mais longo
braço do Estado e atingimos diariamente milhares, milhões de outros corpos e
mentes e muitas vezes a violência que se quer impetrar contra o Estado, em
resposta à violência que este produz e reproduz, mas é invisível aos olhos dos
cidadãos, tem nos professores a sua personificação de autoridade, de poder
ilusório.
Diante da situação de violência extrema, surgem logo
as pseudo-soluções ou soluções fáceis, explorando o medo das pessoas e
consolidando ainda mais o estado de violência e bradam: "Mais polícias nas
escolas!!!", " Mais seguranças armados!!!" " Detectores de
metais", como se isso resolvesse algo. A adoção dessas medidas é o prego
final que faltava no caixão da educação, o lacre final o seu atestado de óbito
e definitivamente o decreto da falência, não só dá educação, mas da própria
sociedade.
Para finalizar, Paulo Freire sempre nos reconforta
nessas horas difíceis e não nos deixa perder os objetivos: "A educação por
si só não transforma o mundo. A educação transforma as pessoas e as pessoas
transformam o mundo". Precisamos de uma educação que pense no ser humano e
não em números.
Profa. Elisabeth Tenreiro descanse em paz, sua luta
não será em vão e nós, continuaremos aqui lutando, diariamente.